De uns tempos pra cá ele
cismou de sentir saudade.
Seus olhos pequenos,
embaçados de tempo,
Estão quase sempre
úmidos de saudade.
Deu para lembrar a casa
antiga que há muito,
Muito tempo se rendeu ao
peso dos anos.
Até mesmo da cidade
onde nasceu resta pouco.
Os lugares por onde andou
são agora caminhos de saudade.
Lembra a mãe - seus
cheiros, suas flores, suas brabezas, seus mimos.
Repete seus gestos e
suas palavras e, sem perceber,
Copia seus medos e suas
angústias.
E dos seus olhos brotam
saudades.
Fala do pai com
respeito e alguma mágoa
(Talvez por causa do
seu jeito duro, esculpido na aroeira dos carros de boi).
E termina quase sempre lembrando
as suas grandes perdas.
E nessas horas também escorre saudade.
Recorda muitas vezes
dos irmãos
Que partiram há muito –
das brincadeiras de criança,
As molecagens de
juventude, as rusgas e os reencontros.
E nos seus olhos minam
saudade.
Agora todos os objetos
têm uma espessa camada de lembranças
E todas as cenas
parecem remake.
A vida corre lenta,
como um rio calmo, de águas claras,
Cuja nascente ele
conhece tão bem.
A foz esconde-se atrás
de uma luz incerta.
É nela que mergulham
todas as saudades.