sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Mar de Minas

 
Haverá um mar atrás da montanha?
Não saberei  se não for até lá.
 
Por trás da montanha há sempre o mar.
 
Mar não há por trás daquela montanha.
 
Por trás das montanhas de Minas
 
uma outra montanha é o que há.


domingo, 8 de setembro de 2013

O tempo que passa no tempo que fica


Meu pai costuma se dirigir à pessoa que fez ou está fazendo algo que, de alguma forma, o desagrada, como “criatura”.

Quando meus irmãos e eu éramos crianças e ele se dirigia a nós assim, era como se dissesse o quanto aquilo que estávamos fazendo lhe estava importunando. 
Ficávamos ressabiados.

Meu pai é um contador de histórias nato! E isso sempre me empolgou! Mas o tempo era muito escasso e muitos dos causos que nos contava, com sua voz calma e um jeito muito expressivo de olhar, deveriam ter sido traduzidos em palavras escritas, pois que, palavras faladas são como borboletas -  lindas de se ver, mas de voo inconstante e frágil.
Meu pai, que nasceu em 1921, sabe tantas histórias - viveu muitas delas!

Lembro-me dele contando a primeira vez que um avião sobrevoou o pequeno povoado onde ele e a sua família moravam, por volta de 1935. A tia estava andando pelo quintal, que era muito grande e cheio de árvores e, de repente, muito assustada, entrou correndo em casa, dizendo que havia escutado uma grande zoeira no céu e avistado a cruz “de nosso senhor crucificado”; logo, o fim do mundo estava próximo, era um aviso de Deus. Todos ficaram em pânico até que alguém, melhor informado, deu os esclarecimentos – era um aeroplano.

Ele contava e ríamos imaginando as cenas.

Naquele tempo, sem televisão e jornais (que só eram encontrados nas capitais), as notícias demoravam muito a chegar aos cantinhos do país.   Aliás, ele também contou quando sua mãe voltou da cidade e disse a eles, o que era, como era, aquele "trem" chamado televisão. Ela estava maravilhada!  Como se vê, a televisão, desde a mais “tenra idade”, exerce grande poder sobre as criaturas.

Um dia desses, meu pai e eu vamos nos sentar no alpendre. Vou pedir a ele que conte as suas histórias e vou ficar atenta a todas as palavras e trejeitos de um mineiro “antigo”, não velho, e vou registrar cada detalhe.


Não quero, não devo esquecer.  Minha memória é também uma borboleta.


Obs.: a foto, tirada por Saulo Guglielmelli, encontra-se no endereço: http://www.flickr.com/photos/geraesdeminas/