quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sina


As histórias de minha mãe são povoadas de santos,
Assim também eram as da mãe dela.
Sua visão parece ser o  seu sentido mais aguçado
Embora tenha lhe sobrado somente a de um olho.
Minha mãe reza e pede a Santa Luzia que o proteja.

Durante anos tentei decifrar-lhe os sonhos
Mas acho que estavam muito bem guardados
Por todos os seus santos.
Ou talvez deles também ela os tenha ocultado,
Pois, sonhar, sonhos de felicidade,
Não era permitido por nenhum santo
Acostumados que são às dores e ao sofrimento.

Herdamos seus anseios, seus medos – sonhos talvez?
Não podemos afirmar - jamais afirmamos.
Minha irmã se ressente da ausência de mimos
- Sementes que nunca vingam.
A corrente nunca se quebra?
Quero crer. 
Valei-nos todos os santos de nossa mãe.

Foto: Ana Claudia/Lásara