sábado, 19 de março de 2011

Ânimo

Sobre a mesa repousa uma folha em branco.
Ao seu lado uma caneta.
Ambos esperam ansiosos.
Mas, o poeta, coitado, não se anima.

Os sentimentos, acanhados,
Descompostos.

Ele olha a caneta e o papel.
Dentro dele uma vastidão imensurável.

Quisera ele formar frases perfeitas,
Palavras vivas, dispostas em poemas,
Contos, crônicas, poesias...
Dentro dele ansiados - emaranhados.

Esqueceu-se ele que o poeta é aquele
Que lê entre-as-linhas do viver.
Não é reto o caminho que percorre,
ele se embrenha em sinuosas paisagens,
turvas muitas vezes.
É ele que vê as pedras verdes do fundo do lago,
Quando todos admiram a superfície,
E encontra um rastro de cor na fuligem das cidades.

É ele que sente o cheiro da chuva,
E adivinha o brotar da vida.
Por isso o poeta é tão só – o seu mundo é desmedido –
Assim também o amor e a dor – sem prumo.
E a sua existência é a própria poesia.

Enquanto isso,
Uma folha em branco e uma caneta repousam sobre a mesa.

terça-feira, 8 de março de 2011

O Jardim

Eu quero ter um jardim.
Há muito venho guardando sementes,
recolhendo mudas, fazendo planos.

Enquanto a terra não tenho,
Cresce dentro de mim um jardim.
São sonhos que semeio, rego, adubo.
Caprichosamente.

No jardim que vou criando há roseiras, hortênsias,
Flores tantas (nem mesmo as dálias ficam em dormência),
perfumes que se misturam - harmoniosamente.

Ah, que boa é a noite pra arquitetar o tal jardim!
Enquanto o sono não chega,
vou riscando a terra que não tenho -
todas as sementes germinam - milagrosamente!
(é assim - a minha alma é jardineira).

Às vezes o coração fica inquieto
e eu penso como é custoso criar um jardim!
A terra anda difícil como a vida,
a ansiedade semeia a angústia,
vem a tristeza e espalha o adubo
e o medo brota – viçoso.
(pensamentos ruins são ervas daninhas).