domingo, 29 de novembro de 2015

Mariana

Mariana pintada em 1895 por Alberto Delpino

Carlos, você pode ver?
A barragem se rompeu e a lama cobriu a cidade.
Não é de ouro nem ferro.
Ainda não se pode contar quantas casas,
Quantas Marias, entre lágrimas, perguntam:
“E agora, José? a luz apagou, o povo sumiu…”
Cadê cidade que se via do alto da montanha?
Montanha não há mais, José!
Veja como são fundas, muito fundas
Essas crateras abissais.

O que resta agora é um rio escuro e barrento
A preencher o vazio que a máquina deixou.
Quanto vale a paisagem que se perdeu?
Quanto vale a vida sufocada, enlameada,
…Perdida

Responda, José!
Quanto VALE?
Talvez se subir ao Pico do Cauê,
Lá do alto se veja Mariana, menina bonita,
Passeando entre vales e montanhas.

– Carlos, veja, pico não há!
Bem que você avisou.
“Quer ir para Minas,
Minas não há mais.”
E agora, Carlos?"
"E agora, José?”

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Toca a música!


Toca a música, alta, aflita
O som entra nos ouvidos,
Percorre o corpo e os pés agita
Dança, desacertadamente  - quem se importa?
                                                  Sacode os braços, alinhava a vida                                                
Com pontos coloridos... e deixe-se levar.

O calor aumenta e colore a face
E o riso libera a alma contida
Pés ligeiros (desacostumados de dança)
Não querem mais parar
Afinados, agora, passos e música
O calor aumenta e colore a vida
Põe a música pra tocar.

Põe a vida pra dançar.

Foto: Inhotim - Lásara Vargas

domingo, 25 de outubro de 2015

Escuta só...


Meu pai contou 
(ele conta tantas coisas que deveriam ser 
caprichosamente anotadas para que não se perdessem) 
que sua avó costumava dizer que 
os passarinhos são
 enfeites do mundo.

Imaginei...


Foto: Lasara Vargas

sábado, 19 de setembro de 2015

Belo Horizonte


 Veja o céu.
Há vários tons que se mesclam e se alternam
Entre o vermelho, o laranja e o amarelo
 e incrivelmente voltam ao azul – agora.
Vem ver antes que a noite caia 
e o tinja de preto – madura amora.
O céu, assim, antes que seja tarde, 
vem ver sem demora.
Agora,
Amora.
Depois,
Aurora.

Foto: Danielli Vargas (https://www.flickr.com/photos/danivargas/2979183710/)

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O Endereço


Vou explicar como é e você não se perderá.

É casa pequena, não se empolgue!
Por fora, as paredes foram cobertas de pedras claras e planas para que não fosse preciso decidir a cor. Quando bate o sol, há pontos brilhantes que parecem diamantes e, se há lua, parecem pequenas estrelas...
Nas janelas há gerânios floridos que dão um pouco de trabalho, mas, quando chega a primavera, eles se exibem tanto para os de fora quanto para os de dentro. E como são coloridos!
Em volta da casa há o gramado, bem verdinho, parece um tapete, salpicado de flores; algumas, enormes, como as dálias e as hortênsias; há também perfumadas como as gardênias e os jasmins; e não há como esquecer as camélias, simplesmente porque elas não me deixariam esquecê-las – majestosas como são. Quase me esqueço das rosas – diferentes tamanhos e cores... é bem verdade que não foram plantadas de forma disciplinada, pois estão espalhadas aleatoriamente, mas florescem com generosidade.
Adiante, vê-se algumas oliveiras (poucas, é verdade), mas que, espalhadas assim, produzem um grande efeito, principalmente se a noite é clara e o vento balança as suas folhas prateadas.

O caminho que conduz à casa é um pouco estreito (é preciso ir devagar), e há uma porção de pequenas pedras brancas, arredondadas.  Acho que vieram do riacho que corre a uns quinhentos metros daqui. Ele vem da grande montanha que se pode avistar da varanda da casa e também dos quartos e da cozinha. A montanha está quase sempre meio azulada... talvez seja por conta das grandes araucárias que a sobem numa grande procissão verde azulada. E, para que não se engane, há lavandas dos dois lados de todo o caminho da entrada. Você sentirá o perfume suave que te acompanhará até a casa.

Mas, voltemos ao riacho. Não é profundo, aliás, é bem raso. Em toda a sua extensão há pedras arredondadas e algumas escarpadas.  Deve ser obra da água sempre a correr por cima delas (os tais seixos rolados, que engraçado!).  De tanto serem lavadas, ficaram assim, branquinhas.  O riacho passa e é bom ouvi-lo passando para depois se embrenhar numa mata pequena e verdinha que fica ao fundo da casa, para onde parecem caminhar todas as árvores, até mesmo as que plantei depois.

Os pássaros parecem gostar daqui e não fazem muita cerimônia.  Logo de manhãzinha é tanta cantoria e trocam de lugar (dos galhos para a relva e de lá para cá) o tempo todo. Parece que não se cansam nunca.  Acho que seria bom ser pássaro.

Não sei se disse antes, a casa é pequena.  Não se empolgue muito.

Foto: Danielli Vargas - http://www.flickr.com/photos/danivargas

domingo, 26 de abril de 2015

E fim...?


Morrer, verbo intransitivo.
Desnecessário qualquer complemento.
Morremos - morreremos e ponto.
A morte acontece assim?
Rompe-se o fio e fim?
E a dor, que é também um pouco minha,
faz afogar os olhos na grande perda
- Na perda infinita, na dor sem fim.
A morte que a todos leva para o desconhecido,
leva com ela e com cada um que se vai
um pouco do olhar de quem guarda lembranças
mergulhadas nesse oceano abissal.
Morrer, verbo  intransitivo.
Assim como amar também o é.

Foto: Danielli Vargas
https://www.flickr.com/photos/danivargas

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Lua lua


A lua vai surgindo.
a lua é cheia – cheia de si – exibida.
Admiro-a assim, tanto!
Imagino  que a qualquer momento
Ela vai rolar montanha abaixo.
Vai rolar e mergulhar
Nas águas dos meus olhos.

Foto: Danielli Vargas