De uns tempos pra cá ele
cismou de sentir saudade.
Seus olhos pequenos,
embaçados de tempo,
Estão quase sempre
úmidos de saudade.
Deu para lembrar a casa
antiga que há muito,
Muito tempo se rendeu ao
peso dos anos.
Até mesmo da cidade
onde nasceu resta pouco.
Os lugares por onde andou
são agora caminhos de saudade.
Lembra a mãe - seus
cheiros, suas flores, suas brabezas, seus mimos.
Repete seus gestos e
suas palavras e, sem perceber,
Copia seus medos e suas
angústias.
E dos seus olhos brotam
saudades.
Fala do pai com
respeito e alguma mágoa
(Talvez por causa do
seu jeito duro, esculpido na aroeira dos carros de boi).
E termina quase sempre lembrando
as suas grandes perdas.
Recorda muitas vezes
dos irmãos
Que partiram há muito –
das brincadeiras de criança,
As molecagens de
juventude, as rusgas e os reencontros.
E nos seus olhos minam
saudade.
Agora todos os objetos
têm uma espessa camada de lembranças
E todas as cenas
parecem remake.
A vida corre lenta,
como um rio calmo, de águas claras,
Cuja nascente ele
conhece tão bem.
A foz esconde-se atrás
de uma luz incerta.
É nela que mergulham
todas as saudades.
"...escorre saudade." Lindo isso. É fartura. Sabe, a gente só tem saudade das coisas boas, momentos que nos emocionaram, nos encantaram. Saudade é lembrança de felicidade!
ResponderExcluirAdorei! Beijos e ótimo fim de semana, Ana.
Há um tempo meu avô sofreu um derrame, que afetou em grande parte sua fala - mas não seu entendimento. O meu avô, a quem nunca vi chorar antes de tal episódio, hoje é só saudades escorridas. Acho que é a forma de dizer: tenho tanto pra dizer, mas não consigo... ao menos restaram as lágrimas e os olhos, que são mestres em contar histórias.
ResponderExcluirTexto muito bonito, parabéns!
...o que dizer? Sabendo de tudo que você escreve (na alma) e vendo em suas palavras tanto sentimento nomeado, a gente fica até sem saber o que pensar...Apesar disso, acho que a capacidade de expressar esse 'mundo' de lembranças que nosso pai carrega é um dom muito raro. Tudo isso precisa virar um livro... Gostei muito desse, um dos melhores dos últimos tempos rs
ResponderExcluirbjs
No café da manhã, na mesa na hora do almoço, só lembranças; dos pais, dos irmãos, o mais lembrado é o João (moço bonito e cheio de galanteios) talvez pq nunca soube o que realmente aconteceu com ele. Às vezes fico o vendo no fundo do quintal a olhar o "Mar de montanhas", Como o pássaro da foto acima, quantas lembranças...bjs!. Ele acabou de entrar, como sempre cheio de lembranças..."quando eu era mais jovem, tinha muito ânimo, andava longe, mesmo cheio de medos, naquele tempo...
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