sábado, 19 de março de 2011

Ânimo

Sobre a mesa repousa uma folha em branco.
Ao seu lado uma caneta.
Ambos esperam ansiosos.
Mas, o poeta, coitado, não se anima.

Os sentimentos, acanhados,
Descompostos.

Ele olha a caneta e o papel.
Dentro dele uma vastidão imensurável.

Quisera ele formar frases perfeitas,
Palavras vivas, dispostas em poemas,
Contos, crônicas, poesias...
Dentro dele ansiados - emaranhados.

Esqueceu-se ele que o poeta é aquele
Que lê entre-as-linhas do viver.
Não é reto o caminho que percorre,
ele se embrenha em sinuosas paisagens,
turvas muitas vezes.
É ele que vê as pedras verdes do fundo do lago,
Quando todos admiram a superfície,
E encontra um rastro de cor na fuligem das cidades.

É ele que sente o cheiro da chuva,
E adivinha o brotar da vida.
Por isso o poeta é tão só – o seu mundo é desmedido –
Assim também o amor e a dor – sem prumo.
E a sua existência é a própria poesia.

Enquanto isso,
Uma folha em branco e uma caneta repousam sobre a mesa.

2 comentários:

  1. Não é porque você disse que se lembrou de mim ao escrever, mas o que você escreveu realmente me tocou.

    Agora...espero conseguir escrever 'algo'.

    Eu

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