sábado, 1 de maio de 2010

À sombra em Parati


Era um dia quente do mês de janeiro.

Minhas irmãs e eu fomos conhecer a cidade de Parati, no Rio de Janeiro, em pleno verão.
O calor caía pesado, mas havia no ar aquele cheiro bom de novidade. As ruas cheias – tanta coisa para ver, tanta gente para andar naquele calçamento difícil.
Sacolas, em número cada vez maior, iam guardando as novidades.

Em algum momento dessa procissão sem santo, eu parei e disse que elas poderiam continuar a caminhada, eu ficaria ali, naquela praça de árvores imensas, de frente para a igreja, esperando. Queria descansar, queria olhar apenas.

A praça, afastada do centro agitado do comércio, parecia um oásis. Alguém sentado em frente à igreja, esperando, e eu, sentado entre árvores frondosas, observando, registrando coisas simples, sem barulho, sem corre-corre, sem sacolas, sem o sol a castigar a pele desacostumada dele.

De repente, do outro lado da rua, uma criança, mais ou menos 8 anos, em cima de uma carroça igual a tantas que circulam pela cidade, parada também à sombra, e seu cavalo – ar de cansaço, enfado.
Ao lado dele, quase embaixo, outra criança, bem mais nova, talvez uns quatro anos, olhava fascinado o cavalo que mastigava (ou era o freio que o incomodava). Pareciam extraídos de uma fotografia – um triângulo: uma criança pobre numa carroça olhava intrigada outra criança, turista admirada, que olhava um cavalo que nada via, apenas mastigava.

E eu lá, do outro lado da praça, observava os três com enlevo.

De repente, apareceu uma menina, com seu vestido de flores, também não devia ter mais que quatro anos. Na ponta daquela calçada muito alta, coisa de cidades antigas, ela parou, inclinou o corpo para frente, segurando a barra do vestido, e gritou para o menino que olhava o cavalo:
- Artur!
Ele não a ouvia – não porque estivesse longe, mas porque estava fascinado.
- Artur, vem, mamãe tá esperando!
Nada.
Os “erres” muito bem pronunciados, o corpo inclinado para frente e seu vestido de flores e, eu lá, embevecido.
- Arrrturrr, vem. Sai daí, Artur, ele vai te morrrderrr – referindo-se ao cavalo.
Artur virou-se e disse, solenemente:
- Não vai não, esse “cachorro” não morde.

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