domingo, 7 de outubro de 2012

Se essa rua fosse minha...


Sentadas no alpendre, minha mãe e eu olhávamos as crianças brincando.
Sobre  nós um silêncio de final de tarde - instante inefável.
Parecíamos cada uma em uma época,
Unidas pela presença uma da outra.
Lá fora a vida corria nos pés das crianças,
Que disso não sabiam – nem do tempo,
Coisa que só se descobre bem tarde.

De repente o tempo presente  soprou sobre nós a sua existência,
Em forma de brisa que pareceu despertar minha mãe.
E ela disse bem baixinho,  quase um lamento:
- Sinto tanto a falta de minha mãe... uma saudade tão grande!
Eu olhei para ela sem nada dizer – não podia!
Os seus olhos estavam encobertos por uma névoa
Que, eu acho,  se chama saudade.
Eu não sabia como ele, o tempo, pudera buscar lembrança tão distante!
Eu não sabia que o amor podia durar tanto!

Levantei-me e beijei os seus cabelos.
Foi nesse instante que notei como estavam brancos...
Então os meus olhos também se cobriram de névoa.

2 comentários:

  1. Vi você e mãe sentadas em algum lugar lá de casa, vi até a minha avó, que não conheci, numa paisagem lá do baixadão, lá do Cedro,lá daqueles lugares nos quais nunca fui mas guardo no coração, de tanto ouvir falar deles nas lembranças da 'nossa' dona Isabel. Que 'coisa' mais bonita que você escreveu: foi uma ponte que uniu três gerações dessa família e isso não é pouco não (como você bem sabe).
    Ana Claudia

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  2. Aninha, que coisa mais linda!! Os meus olhos também se encheram de névoa. Um beijo. Cesar

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