domingo, 3 de outubro de 2010

Maria

Maria era dura como a pedra onde batia a roupa de suas crianças.

Quanto mais a vida a maltratava, mais um pouco Maria endurecia.

Não que seu coração tivesse essa dureza.
Maria às vezes se fazia gentil, uma gentileza desacostumada,
Áspera, pois com a vida de outro jeito não aprendera.

Não sei se Maria sofria – ela era dura como o ferro,
Seu nome não rimava jamais com alegria.
Quando a vida dela zombava, Maria esperneava, gritava e
Depois... Depois Maria seguia.

As crianças que por ali nasciam, primeiro viam Maria.
Maria parteira, Maria que nunca partia.

Acho que Maria vivia porque a vida ali a queria.

Tanto que Maria às vezes perguntava:
"será que Deus de mim não se alembra?"
Eu acho que foi birra da vida que
Tanto queria dobrar Maria.

Mas, um dia, a morte chegou e, com grande respeito,
Desculpando-se, chamou Maria.
Maria, cansada, centenária, despiu-se de sua brabeza
e, obediente, a seguiu.

Obediente - como a vida nunca viu.
(À Dona Maria d'Otávio, que partiu aos 105 anos de idade.)

Um comentário: