Estou sempre a pensar em como se chegou ao agora,
a isto, aos porquês - nos sentimentos de antes.
Fui visitar um museu aonde tudo recendia o passado distante,
e também se ressentia do desbotamento da beleza.
As imagens produziam consternação e
exalavam um cheiro que remetiam ao sofrimento.
Era um museu de arte sacra e o prédio, respeitado, respeitoso,
Parecia ter muitas chagas rusticamente tratadas com a cal recente.
O jovem que se apresentou para nos prestar as informações mais diversas
Nos contou também que no andar superior,
aonde não se pode ir - deixou claro -
aonde não se pode ir - deixou claro -
Ainda moram as freiras, que são muito raramente vistas porque vivem enclausuradas.
A partir desse momento, os meus olhos queriam subir aquelas escadas,
Vasculhar cada corredor e procurar, não a freira que se escondeu,
mas o porque da clausura a que se impôs (por ela ou por outros?).
Talvez o coração já estivesse enclausurado - pensei - muito, muito antes
Cerrado atrás de grossas paredes de medo (ou de dor).
Por isso o corpo se deixou levar para dentro daquele lugar sombrio.
Será que Deus não as preferiria vivendo livres do cheiro que ocupa,
um pouco mais a cada dia, os lugares antigos?
Será que o perfume das flores não sublima mais os seus sentimentos?
Será que um dia foram meninas com vestidos coloridos e sonhos também?
...
Do jardim, olhei as janelas – todas fechadas.
Do lado de fora, uma brisa suave passeava por entre flores e folhas.
Lá dentro – a vida enclausurada.
O coração, os sentimentos, quem os enclausurou?
Saímos dali e seguimos pelo centro da cidade.
Lá se podiam ver muitos mendigos: homens, mulheres e crianças,
Enclausurados todos na ignorância, no cheiro repulsivo da falta.
Quem os trancafiou assim nesses mundos tão distantes e sombrios,
Coexistentes num transpor de portões?
Enquanto isso a brisa suave passeia por entre flores e folhas
e sopra sobre todos o frescor de Deus.
Mas, os enclausurados não o sentem.