sábado, 19 de junho de 2010

Legado

Pois se de tudo fica um pouco,
Ficou um pouco de nosso pai em nós.
Aquele olhar cansado, amedrontado muitas vezes,
Também se vê em nosso olhar.
Há ainda um pouco de desesperança,
Uma sobra de angústia.

Da nossa mãe, o que dizer?
Há tanto, que algumas vezes nos incomoda.
Há inquietude, um receio de não conseguir.
Um jeito de dizer sem querer ter dito,
Contornando palavras e, por que não,
Quase sempre pensando em desdizer.

Do nosso pai e da nossa mãe,
Sobraram tantas coisas em nós,
Muito mais que o detalhe do queixo
Muito além do jeito de olhar.
Há, sobretudo, uma vontade de prosseguir.
Uma fé persistente, orgulhosa,
Que nos impede de retornar.

Quando eu ouço deles as histórias,
Quase sempre tão simples e sofridas,
Meus olhos, tão parecidos com os seus e os deles,
Ficam amargurados, assim, rasos d’água.
Mas, sempre há um ‘de repente’, coisas da vida!
Eles contam, e juntos, outra vez os olhos se inundam
Mas, dessa vez, a gargalhar.

E descubro também nessa hora,
Que esse nosso jeito de rir, contido,
quase envergonhado, também é deles.
Pois veja, se não foram eles que nos ensinaram
a moderar o riso, o amor, a dor - a vida.
A viver sem muito se exaltar.

Nessas e em outras tantas horas assim tão nossas
É que olho em sua direção e me reconheço.
Tanto você quanto eu,
nas pegadas do nosso pai e da nossa mãe,
carregamos com enleio e orgulho
,
Uma constatação: há muito deles em nós.

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