terça-feira, 15 de junho de 2010

Carlos e Mário – Drummond e Quintana

O dia estava bonito! Eu creio – é mesmo preciso crer – que aquele dia estava especialmente bonito para ser cantado, ou melhor, poetado.

É estranho, diriam alguns, que em pleno mês de agosto tenha havido um dia tão suave, tão propício a ser tema de um poema. Mas, assim foi.

Na paisagem daquele dia criado pela poesia, eis que surge um homem magro, elegantemente simples, fala mansa, olhar doce (parecia ter chegado de Minas Gerais) e pôs-se a escrever.
Enquanto escrevia, lançava pequenas borboletas brancas que contrastavam com o azul do céu, ao mesmo tempo em que espalhava palavras que se orquestravam e se transformavam em poemas e músicas e eram como flores de todas as cores tornando policromáticos aqueles campos. E tudo ‘parecia’ perfeito! Parecia.

Mas, faltava algo – ou alguém.

O tempo passou, sem que ninguém se apercebesse. Mesmo porque, por ali não havia calendários nem eram mesmo necessários.
“Porque, na poesia, o tempo não existe! Ou acontece tudo ao mesmo tempo...”

E foi assim, passando sem se dar conta que, num belo dia de maio, chegou por ali um outro homem, tão elegantemente simples quanto aquele que viera antes. Eles se olharam e se entenderam. Ambos tinham o mesmo jeito de olhar. E se cumprimentaram como se fossem velhos amigos esperando um pelo outro:

- Olá, Carlos!
E Carlos chegando-se um pouquinho para o lado, para deixar o outro sentar, respondeu:

- Oi, Mário. Eu estava te esperando...
E depois disse:

“Gastei uma hora pensando um verso que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo.
Ele está cá dentro e não quer sair.
Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira.”


Depois, apreciaram a tarde que caía, bonita como só um grande poeta poderia descrever.

E Deus suspirou feliz. Afinal, seus filhos estavam de volta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário