Me dê uma centelha ou um
facho de luz – tanto faz.
Qualquer coisa que em
minhas noites insones
Me faça crer em encantos – recantos.
O clarão que alumia as
lembranças mostra (quase sempre)
o que não quero ver –
não quero ter.
Preciso abrir os meus
braços, o meu peito,
e me deixar escapar –
deixar de ser.
O vento que assopra os
meus cabelos não me acarinha.
É noite de verão, mas
parece inverno.
Faz frio, muito frio.
Lá, aonde nasci, as
ruas eram feitas de areia branca.
Eu sabia do rio, mas
nunca o vi. Eu o imaginava tão bonito!
Hoje o asfalto redesenha
a cidade com recortes escuros.
Havia uma casa azul – caiada
com tinta barata.
Mas era azul. E o céu também.
Isso é o que faz
cintilar as minhas lembranças. É o me que basta.
É a fagulha que acorda
sentimentos indefinidos:
a essência, o cheiro de
manacás trazido pela brisa branda
que areja as minhas
lembranças.
Mas não me acarinha.