Sentadas no alpendre,
minha mãe e eu olhávamos as crianças brincando.
Sobre nós um silêncio de final de tarde - instante
inefável.
Parecíamos cada uma em
uma época,
Unidas pela presença
uma da outra.
Lá fora a vida corria
nos pés das crianças,
Que disso não sabiam –
nem do tempo,
Coisa que só se
descobre bem tarde.
De repente o tempo
presente soprou sobre nós a sua
existência,
Em forma de brisa que
pareceu despertar minha mãe.
E ela disse bem
baixinho, quase um lamento:
- Sinto tanto a falta
de minha mãe... uma saudade tão grande!
Eu olhei para ela sem
nada dizer – não podia!
Os seus olhos estavam
encobertos por uma névoa
Que, eu acho, se chama saudade.
Eu não sabia como ele,
o tempo, pudera buscar lembrança tão distante!
Eu não sabia que o amor
podia durar tanto!
Levantei-me e beijei os
seus cabelos.
Foi nesse instante que
notei como estavam brancos...
Então os meus olhos
também se cobriram de névoa.