terça-feira, 21 de setembro de 2010

Infância Azul

A casa é azul.
Azuis são as flores dos manacás que perfumam as tardes.
Azul é o céu que cobre a cidade no mês de junho.
Azul é a montanha que cerca a pequena cidade.
Nada além parece existir.

Há conforto no tom que se espalha e parece voar nas asas da borboleta,
e se resguarda no quintal da casa.

Perfilam-se no quintal inúmeros pés de laranja,
e suas pequenas flores, tão brancas e perfumadas, parecem milhões de minúsculas fadas a espalhar água de cheiro sobre a cidade.

O azul se derrama e me confunde.

Mas, ali, a vida não é azul.

Meu pai, em pé na porta, olha em volta.
Tudo o que ele tem está ali:
uma casa azul e seus manacás e seus pés de laranja.
Esse tudo lhe parece tão pouco...

Eu, criança, olho o meu pai.

Tudo o que sei é que há conforto na casa azul, há o cheiro bom dos manacás e das laranjeiras. E ainda há borboletas!

Olho o meu pai na porta, admirada – ele é o dono do mundo azul.

Um comentário:

  1. Esse é um instante de leveza, alguma coisa que está entre a gota de orvalho e a pétala da rosa.
    bjs volto logo pra saborear uma outra poesia.

    ResponderExcluir