domingo, 10 de junho de 2018

Alegria é flor



A menina guardava sementes de alegria
no bolso de seu vestido rodado,
Com as letras do alfabeto, flores e bichinhos,
caprichosamente bordados.

Cuidado, menina, não semeie ainda essas sementes.
É preciso guardá-las com muito cuidado,
que a vida agora é sofrer. 
Guarda, pois, essas sementes para mais tarde. 
Repetia a mãe, como um mantra sagrado.

E a menina segurava com força as sementes no bolso,
com muito zelo e obediência.
O que a mãe não sabia (a menina também não
porque essas coisas só se aprendem no caminho),
é que a vida não se borda com tanto esmero,
não tem esboço...  vai-se bordando, cada dia um pouquinho.       

A menina cresceu e o vestido já não lhe serve.
E as sementes de alegria, como mãe e filha agora sabem,
Estão goradas - não germinam, não florescem mais.


Imagem:  Duy Huynh

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

De Dores e flores


Flores doloridas do Indaiá
Que às margens dele florescem.
Serão flores, serão dores
Que nem as margens dele conhecem.

Penso nas flores distraídas à beira do Indaiá
Nascidas ali por vontade de passarinho
Mas, são dores – de um rio que não margeia
Uma cidade que sequer conhece o seu caminho.

Bem poderiam trocar seu nome para flores
Talvez Nossa Senhora gostasse mais
De ser das flores ao invés das dores.

Foto: Danielli Vargas

domingo, 10 de dezembro de 2017

Por que tinha que ser assim?


Da janela do ônibus eu olho mais uma vez
O que vai passando, o que vai ficando.
Ainda é muito cedo.
Tão cedo que a neblina da noite ainda não se dissipou.
O ônibus transporta também a solidão
Tudo em volta é denso
Como a névoa que envolve o ônibus
Como a solidão que me envolve

Olho ainda uma vez pra fora
No muro antigo que nada impede
Alguém deixou uma frase
Vê-se que lá ela vive há muito
E pergunta a todos que por ali passam
“Por que tinha que ser assim?”