domingo, 27 de novembro de 2011

Ciranda

O ladrão passou correndo
E levou o anel que tu me deste.
Não era vidro, era puro ouro – tu disseste!
Tanta estima que eu lhe tinha
e agora somente uma marca restou.

Senhor ladrão, talvez não saiba,
Não poderia mesmo saber,
Quanto me custa ver este dedo vazio
Nele eu exibia uma prova de amor.

Corre o ladrão com minha jóia,
E logo se forma uma ciranda de espanto.
atordoada, olho a marca que ele deixou.
“Vão-se os anéis, ficam os dedos”:
Alguém na roda, teatral, recitou.

Vamos dar a meia volta – volta e meia é que não dá.
O anel não volta mais – outro ainda profetizou.
E a roda assim como se fez assim se dispersou.
Vou pensando na minha perda...
Há muito se quebrara, não o anel,
Mas o amor que outro coração furtou.

Senhor ladrão, talvez não saiba,
Nem poderia mesmo saber,
O anel que tu levaste não era vidro e tem valor,
O amor que nele havia é que era pouco
E há muito se quebrou.

Ciranda, cirandinha... E tudo agora se acabou.

domingo, 13 de novembro de 2011

Travessia

Eu sou muito jovem ainda,
Mas você insiste que preciso cruzar o oceano,
Largar a segurança da praia.
“É hora de partir, eu vou...”
Por que preciso ir?
Meus olhos já estão cheios de saudade,
Que eu não sabia existir,
E se derramam mais que toda a água do mar.
Você não vê?
Meu coração ficou tão pequeno – como uma ervilha -
Não pode suportar tanta dor!
Por que é preciso sofrer assim?
“A cera da vela queimando...”
Como pesa essa mala!
Tanto medo carrego dentro!
Você não se importa?
Olhe os meus olhos.
Tanto sentimento eles te contam!
Ah, o mar é tão escuro!
É tudo o que eu não sei.
“Vou-me embora pra bem longe...”
Eu tenho medo – o medo me prende
E aperta com tanta força o meu coração.
Ou não – talvez não seja isso.
Pode ser a saudade que se antecipa.
Pode ser...
Os retratos na parede descascada
(seus traços tão afeitos)
De repente embaçados.
Você não vê porque está tão escuro.
Você não ouve porque soluço em silêncio.
Tão profundo esse silêncio – tanto quanto o mar.
Esse mar que quer que eu atravesse.
Do lado de lá só a solidão.
Eu me desintegro – perco os retratos
E o que me resta:
uma parede descascada – desconhecida.
“A morte é o fim do novelo”.

domingo, 6 de novembro de 2011

Esperança


Olho o pássaro pousado lá no alto.
Em quê ele pensa? Ponho-me a imaginar:
Tomara que amanhã seja um dia bonito.
Que tenha sol, mas que seja brando o seu calor.
Que o céu esteja azul e as plantas bem verdes.
Que tenha flores, sem exagero, mas que existam.

Quero o melhor de cada estação.
Tomara que chova esta noite.
Assim amanhã o ar estará limpo e fresco.
E que sopre em mim o viço da esperança.

O pássaro, liberto, abre suas asas e voa.
Eu, imóvel, percebo que os desejos são meus -
Não dele.