segunda-feira, 26 de abril de 2010

Injustiça

Há um temor mal contido
Como asas negras pressionadas contra o corpo.
É preciso correr, é preciso fugir.
Para onde?
Não se vê horizontes além da densa névoa
a esconder tantos medos.
O corpo agora tão pequeno, tão frágil,
Tão submisso se encolhe.
Cada vez menor, insignificante
Transforma-se, vira poeira.
Ninguém vê, o vento sopra.
De longe, muito longe,
Deus a tudo assiste, tudo enxerga,
Onipresente, Deus o recolhe.

domingo, 25 de abril de 2010

Cidade Morta


Vive em mim uma cidade morta
Seus habitantes, suas ruas, suas casas sem reboco
Estão todos dentro de mim.

O tempo que passou ainda passa em mim
Os sentimentos de antes, tão velhos, passando
Lentamente, como a vida dali.

O sol fustiga seus moradores, como a exigir
Que se rebelem, mas, nada! Quando a noite cai,
eles escondem a tristeza no fundo das casas.

Lá dentro, junto com suas lembranças, medos,
Fantasmas sentados nos tamboretes, nos cantos dos
Alpendres, que eles recolhem no fim da tarde.

Vive em mim essa cidade morta
Perdida numa poeira vermelha, desbotada,
Sem ouro, sem o brilho das pedras, de Minas Gerais.

Saudade

Saudade... o que é?

Algo dentro do peito
Que às vezes se espalha
E se derrama pelos olhos.
E depois,
Se recolhe, se resigna,
e se acomoda novamente
dentro do peito.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Adiante

- Tô indo, mãe.
Grito do portão da casa.
- Que Deus te acompanhe.
Responde ela lá de dentro.
...

Fecho o portão e sigo pela rua.
Lá adiante olho pra trás.
A casa ganha contorno de ninho.
Lá dentro, minha mãe.
...
Fecho os olhos e sigo a vida.
De vez em quando olho pra trás.
Já não enxergo o contorno do ninho.
Mas, lá dentro, ainda está minha mãe.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Infância

Cheiro bom de milho assando nas brasas da fornalha,
da terra molhada, da chuva lavando as folhas das árvores,
da dama-da-noite lançando cheiro doce no vento que passa.

Novembro passando, dezembro chegando,
manga escorrendo pelos cotovelos empoeirados.

Vida caminhando, devagar e sem cismas.